Dia Utilcinco da segunda semana do mês de Treddoze do ano
de 2003D’GOE. Mais uma vitória para a Resistência Orgânica. Desde que psíquicos
de algumas raças não humanóides se uniram às forças da resistência, as vitórias
se tornaram mais constantes, mas não mais fáceis.
A
equipe de comando da nave capitânia Miaplacidus olhava atentamente para seu
comandante à espera de ordens, mas o Marechal Sinuhe tinha a mente perdida em
pensamentos e aparentava cansaço. Ele olhava atentamente para o grande telão da
ponte que mostrava as forças de GOE em retirada.
Sinuhe
estava realmente exausto. Perdera a conta de quantas destas batalhas semanais
travara. Ele foi promovido a Marechal das forças da resistência no dia Vinte de
Cinddoze de 1028D’GOE. Morrera em batalha e fora reconstituído cinco vezes
desde então. A maior parte de suas lembranças advinha dos seus diários
particulares e militares, pois muito pouco era recuperado no processo de
reconstituição pelo tele transporte. Ele sabia que seus subordinados aguardavam
ordens, mas esperava que o piloto tomasse a iniciativa de voltar para casa.
Teriam um final de semana tranqüilo pela frente e, no máximo no Utildois
seguinte, as forças de GOE estariam de volta para mais uma batalha. Todo
militar sabia disso, então não precisavam de ordens para seguir uma rotina de vinte
séculos. Disciplina e hierarquia eram suas desculpas.
- Dois
mil anos em batalhas e ainda não descobrimos porque essas máquinas malditas paralisam
a guerra aos Noborars e Nobadorars. Até parece que são tementes à Mãe de Todas
as Estrelas para guardarem seus dias san...
Sinuhe
não terminou a frase. Sentiu de repente como se algo estranho adentrasse sua
carne e abraçou-se a si mesmo para espantar um frio repentino. Então uma onda
de calor e energia espalhou-se por seu corpo e uma imagem veio até sua mente.
Uma nave cilíndrica semelhante ao botão de uma flor ou uma ponta de lança.
-
Astrometria. Rápido. Focalize e coloque na tela principal o Quasar de
Nobiloria.
-
Sim Senhor.
Djau,
o oficial de astrometria, obedeceu prontamente a ordem do Marechal enquanto que
a metade da equipe quase caía das cadeiras de susto. Todos olhavam para Sinuhe,
que agora parecia mais jovem, transbordando de energia. A imagem do quasar
apareceu na tela e foi sendo ampliada lentamente. Assim que ela se estabilizou,
um grande jato de energia escapou do astro em direção às fronteiras de
Nobiloria. Sinuhe olhou atentamente o fenômeno e não viu nada de anormal. Aquela
cena era conhecida a séculos por todos os estudantes e estudiosos. Djau, agindo
dentro de sua costumeira eficiência, gravou o fenômeno e pediu uma análise ao
computador da nave.
-
Não sei o que o senhor procurava, Marechal, mas segundo nossos sensores o
disparo do quasar está dentro dos parâmetros normais que temos no banco de
dados. Esse disparo foi em direção a Via Láctea. Segundo os registros, as
rajadas nessa direção ocorrem a cada 30 meses.
-
Obrigado, Djau. Koroma, trace curso para a sede da frota.
-
Sim, Senhor.
-
Tjety, abra um canal para todas as naves.
- Sim, Senhor. Cinco, dez, vinte, cinqüenta,
noventa, cem por cento da frota na escuta Marechal.
-
Senhores, mais uma semana ganha pelos orgânicos. Pela graça de Nob, manteremos
essa rotina. Temos menos de três dias para nos recompor até a próxima batalha e
reconstituir os que pereceram hoje. Levantem os danos e programem os reparos.
Quero todos nos estaleiros antes que este Utilcinco acabe. Vamos para casa. Nos
reencontraremos no Utilum que vem. Miaplacitus desliga. Tático, resumo da
batalha.
-
Quatro naves e dezoito caças destruídos Marechal, três naves precisaram de
reboque por raio trator. Tivemos 47 sinais de cápsulas de fuga, todas
resgatadas. Noventa e sete nomes foram para a lista de reconstituição. Sessenta
por cento da frota inimiga destruída. Noventa e três horas de batalha, Senhor.
-
Obrigado, Nebetya. Djau, faça uma busca padrão com sensores físicos e
psiônicos. Não quero deixar ninguém para traz. Nem vivo, nem morto. Quanto
tempo?
- Já
estava em andamento, Marechal. Mais dez minutos.
-
Koroma, leve-nos para casa assim que Djau terminar. Osorkon, a ponte é sua.
Estarei em minha cabine caso tenha alguma novidade.
-
Sim, Senhor. Bom descanso, Marechal.
O
Capitão Osorkon esperou Sinuhe entrar em sua cabine para depois sentar na
cadeira do capitão. O silêncio foi ficando pesado até ser quebrado pela oficial
tática Nebetya.
- Acho
que pela primeira vez vou usar essa pergunta de forma totalmente apropriada. O
que foi que baixou no Marechal? Tenho quase nenhuma PES, mas senti que algo
invadiu a ponte.
- A
minha PES é mais forte. Informou a piloto Koroma. – Realmente algo entrou aqui.
Pude sentir. O que tem a dizer os seus sensores Djau?
-
Primeiro as obrigações. Capitão, encontrei mais quatro sobreviventes entre
alguns destroços. Já foram resgatados pelo tele transporte. A lista de
reconstituição ganhou mais três nomes. Podemos partir, Senhor.
-
Koroma, acionar. Vamos para casa.
Capitão
Osorkon pensou que o assunto estaria encerrado, mas o oficial de comunicações
Tjety engrossou as fileiras dos curiosos.
- E
quanto à pergunta dela Djau? Tem algo entre seus bits?
- Nos
sensores nada, mas um de nossos cetáceos, a Clymene, responsável pelos escudos
nesta setor da nave, informou uma projeção humanóide na ponte e que ela
pertencia ao Marechal. Só que Clymene não viu o Marechal lançar a projeção. Viu
apenas seu retorno.
-
Nosso Marechal não é um psíquico superdesenvolvido para efetuar uma projeção
antes da batalha e mantê-la até após seu término. Com certeza Clymene estava
muito ocupada defendendo nosso casco quando o Marechal a criou. Chega deste
assunto, senhores. Nosso dia-a-dia já é estranho o suficiente. Olho na rota Koroma.
Djau e Nebetya, vigiem nossa retaguarda. Tjety, mantenha os ouvidos atentos.
E
assim Osorkon encerrou de vez o assunto. Uniu as pontas dos dedos das mão
encostando os polegares no queixo e os indicadores na testa. Fechou os olhos e
orou agradecendo a Nob pela vitória da semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário